6 de Espadas e Maat: a importância da leveza na hora da transformação
- Tati Santana
- 25 de ago. de 2023
- 3 min de leitura
O 6 de Espadas de Pamela Smith tem uma das minhas imagens preferidas do deck. Para mim, tudo ali se encaixa tão bem…
O rio, o barco, os melancólicos passageiros, a paisagem que os aguarda do outro lado, o barqueiro em uma bela referência à Caronte, as grandes espadas empilhadas no interior da pequena estrutura.
E é sobre esses últimos aspectos que quero lançar luz nesse momento. As seis espadas da carta fazem alusão, é claro, ao número do arcano e à natureza mental do naipe, mas elas sempre tiveram para mim um significado especialmente profundo no contexto da imagem.

Imagine que você está prestes a atravessar um rio em um pequeno barco de madeira rumo a um lugar desconhecido. Você está cheio de expectativas e medos, inclusive da viagem, que será feita em um meio de transporte que mal consegue abrigar você e aqueles que te acompanham. Então você descobre que terá uma bagagem um tanto inusitada para levar. Seis espadas pesadíssimas que, se por um lado, são uma boa garantia de proteção se você souber utilizá-las, por outro, representam um grande peso que pode fazer o barco afundar. Complicado, não é mesmo?
Simbolicamente, isso costuma acontecer com a gente em momentos de transformação, especialmente quando as mudanças são mais significativas. Todos esses elementos juntos representam bem a tal morte simbólica da qual tanto se fala, que é como uma grande travessia rumo ao desconhecido. Uma travessia que pode ser desconfortável e assustadora, pois se transformar nem sempre é navegar em um mar de rosas.
E, nessa representação, as espadas são a bagagem mental que somos obrigados a carregar na hora de viver a transformação em nossas vidas. Às vezes, essa bagagem é feita de aprendizado, análises, pensamentos encorajadores. São as espadas da sabedoria e da coragem. Outras vezes, essa bagagem é feita de pensamentos pessimistas, arrependimentos, lembranças ruins e também das tais crenças limitantes. São as espadas pesadas que podem afundar o barco.
E é aí que temos uma lição. Se na hora da travessia as espadas do nosso barco representarem um grande peso, precisamos nos livrar delas. Quem sabe jogá-las ao mar, que as engolirá para sempre. Mas se livrar dessas espadas também é um desafio. Exige coragem, desapego, esforço e, antes de tudo, o reconhecimento do peso que elas representam.
Quantas vezes o barco da nossa vida está quase afundando em meio às nossas transformações, com tudo indo de mal a pior, e nós não percebemos o quanto os nossos pensamentos estão nos sobrecarregando e prejudicando todo o processo?
Quantas vezes julgamos que o problema vem apenas de fora, das águas turbulentas e do cenário desconhecido ao nosso redor, nos esquecendo de olhar para dentro, para todo o peso que está bem ali dentro da nossa mente?
E é só agora, mas ainda a tempo de refletir, que quero falar de Maat. Porque ela, que é uma deusa e também o próprio princípio da Justiça na cultura egípcia, é quem dirá o que acontece com os mortos que chegam ao reino celeste guiados por Anúbis.
E ela diz que, quando chegar a nossa vez, seremos julgados pelo peso do nosso coração, e ele deve ser tão leve quanto a sua pluma. Só assim poderemos nos livrar de uma eternidade de sofrimento.
Temos aí, mais uma vez, a questão da leveza. Se quisermos viver uma morte simbólica, ou seja, uma fase de transformação, com êxito, precisaremos trabalhar essa leveza interior, tanto na mente quanto no coração.
Simplesmente não dá para fazer travessias boas e tranquilas com a mente e o coração tomados por pensamentos e sentimentos densos, que preocupam, desencorajam, deprimem, destroem.
Fica com o aprendizado, mas deixa o medo, deixa os pensamentos autodestrutivos, deixa a crença de que só pode dar errado. Deixa a culpa e a mágoa dos outros e de si mesmo. Deixa todos eles lá na margem que você abandonou porque a outra margem que te espera tem muitas coisas melhores para cultivar.
Ah, antes de terminar, fica uma curiosidade: muitos entusiastas do Tarot associam o barqueiro do 6 de Espadas a Caronte, o barqueiro da Mitologia Grega que conduzia a alma dos mortos pelo rio Aqueronte para o submundo de Hades. Se associarmos a morte no mito com a morte simbólica (transformação) como aspecto da carta, faz todo o sentido, não é mesmo?
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